21/12/2016 11h31 - Atualizado em 21/12/2016 11h31

CORRUPÇÃO: VAMOS FAZER NOSSA PARTE.

(José Gilberto Alves Braga Junior, Juiz de Direito da 1ª Vara da Comarca de Santa Fé do Sul)

“2016 foi um ano marcado por escândalos de toda ordem na política brasileira. Além do impeachment da Presidente da República, vários corruptos e corruptores foram presos e condenados, o Presidente da Câmara de Deputados perdeu o cargo, dentre outros acontecimentos. Enfim, assistimos uma transformação que há muito era esperada pela sociedade.

O combate à corrupção é uma das principais bandeiras nessa fase da história que brasileiros começam a escrever. Todavia, se por um lado o pedido por honestidade toma as ruas, se traduz em decisões judiciais severas e influenciou até mesmo o resultado das eleições, há aqueles que ainda encontram dificuldade de vencer seus desvios de conduta. São os pequenos desvios que ocorrem em nosso cotidiano ou, como se diz, o “jeitinho brasileiro” ou “Lei de Gérson”.

Parar em fila dupla, tentar ludibriar o policial para evitar uma multa, estacionar o veículo em vaga de idosos e deficientes, ainda que por um minuto, danificar o leitor de consumo de água ou de energia elétrica, colar em prova, instalar antena de tv clandestina, etc... São pequenas formas de corrupção que se proliferam em sociedades em que há maior tolerância em relação ao problema. E essa corrupção diária pode ser ainda mais grave, como ocorre na Previdência Social, sempre repleta de fraudes, possibilitando o pagamento de benefícios a pessoas que apresentaram documentos falsos.

Essas pessoas que sempre visam obter vantagem em toda e qualquer situação, sem preocupação com questões éticas e/ou morais, são aquelas, como dizia Kant, que agem “segundo os afetos e não segundo a razão pura”. Na linguagem popular, é o malandro, figura que não é nova e cuja primeira aparição na literatura brasileira se deu no livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, numa história narrada no século XIX. Pois bem. Esses desvios de conduta não atrapalham o inconformismo da sociedade contra a corrupção, nem são a causa de tantos roubos aos cofres públicos, mas mostram que o problema não se resume aos políticos. É uma questão de educação, de formação moral e ética.

Atentos a tudo o que vem acontecendo e cientes de que a corrupção está entre nós nessas pequenas digressões diárias, é chegada a hora de fazermos um exame de consciência e uma autoanálise a fim de que passemos a ver o mal que é causado nesses casos. Para que possamos cobrar e mudar o país, devemos, em primeiro lugar, mudar nossos conceitos, nossas atitudes e condutas. Portanto, que no ano vindouro, continuem as investigações e a punição dos corruptos, mas que sejamos mais conscientes de que devemos também fazer a nossa parte. Precisamos de um país melhor. Para que isso ocorra, cada um de nós deve fazer a sua parte.”

(José Gilberto Alves Braga Junior, Juiz de Direito da 1ª Vara da Comarca de Santa Fé do Sul)