07/03/2019 11h45 - Atualizado em 07/03/2019 11h45

Dia Internacional de Mulher por Mariana Nascimento - Delegada de Defesa da Mulher de Santa Fé do Sul

"O papel da mulher na sociedade pós-moderna, práticas discriminatórias e a violência"

Quando pedimos para alguém imaginar a figura de uma mulher, certamente, a maioria das pessoas trará ao pensamento uma representação social do que é ser mulher, ou seja, buscará em sua mente todo um conjunto de características desenvolvidas pelo grupo social que se arraigaram ao longo do tempo sobre a definição da “identidade feminina”. Assim, espera-se que características como fragilidade, intuição, altruísmo, docilidade, dentre outras apareçam neste conceito. Se pedirmos, então, para pensar em uma cor ligada ao feminino, logo virá à mente o rosa, já que esta é a construção da realidade que emana da sociedade e volta para ela. Pensar de forma diferente exige esforço e trabalho de quebra de ideologias vigentes.

A ideologia das representações sociais de mulheres e homens foi construída ao longo da história da humanidade, sendo que foi no século XVIII, no modelo familiar burguês, que a estrutura social atual, de divisão de papéis, passou a se estabelecer. Nesta, a mulher desenvolveu de forma predominante sua função de responsável pela vida doméstica, organização da casa e cuidado dos filhos. Considerada mais emotiva e dependente do marido, ela se isolou da comunidade e perdeu a referência de uma rede feminina de apoio. Já a figura masculina passou a ser vista como provedora material, autoridade dominante e gestora de problemas.

Desconstruir tal definição e divisão não é tarefa fácil, ficando grande parte da responsabilidade nos grupos feministas. Na contemporaneidade e diante da globalização, falar-se-á em multiplicidade de identidades possíveis, as quais não são estanques, mas mutáveis. Desta forma, encontraremos não uma identidade unitária da definição de “ser mulher”, mas sim algo múltiplo, por vezes fragmentado e até contraditório.

Não se pode mais pensar como no modelo feminino norte americano, criado na década de 50, 60 e 70, com a mulher de avental, “bobs” no cabelo, na cozinha e envolta em utensílios domésticos. Hodiernamente, a mulher também está presente no mercado de trabalho, seja por necessidade econômica ou para sentir-se útil; ocupa cargos de importância, já que passou a frequentar curso e bancos de universidades; tem liberdade sexual e reprodutiva, quebrando "tabus" como a indissolubilidade do casamento. Atrelado ao nível e grau de escolaridade, mulheres passam a ter outras aspirações, com consequente mudança na idade para o casamento, maternidade, além das taxas de natalidade.

A despeito de tamanhas mudanças, observa-se que as mulheres continuam a sofrer discriminação (ainda que de forma velada), tais como salários mais baixos do que os dos homens ou não ocupando postos de chefia, e, de certa forma, são segregadas a determinadas funções, ligadas a trabalhos educacionais, assistenciais e à prestação de serviços. Continua-se a atribuir à mulher todos os encargos com a casa e a família, tributário ainda de características que, no fundo, a sociedade considera como essencialmente femininas, o que multiplica suas funções e não divide responsabilidades.

Questão também a ser debatida é a da violência, tão presente em diversos lares brasileiros e nas relações íntimas e de afeto, que atinge parcela significativa das mulheres em nosso país. Tal problema precisa ser enfrentado, sendo um grande avanço a especial atenção dada a mulher pela Lei 11.340/06, popularmente conhecida como "Lei Maria da Penha". Esta, propicia às mulheres não só medidas cautelares para afastá-las de eventual risco, mas também repressão penal para seus agressores. Frisa-se, ainda, que grande parte das vítimas de violência não levam a conhecimento das instâncias oficiais o registro dos delitos contra elas praticados, seja por medo, por dependência financeira ou emocional, além da existência de filhos, o que demostra, que apesar de haver uma quebra de paradigmas sociais, a mulher ainda precisar criar forças para romper com o ciclo de violência estabelecido em face dela.

De qualquer forma, na prática, o que se pode observar é que o discurso social de exclusão e as práticas de violência ainda estão incorporadas socialmente, apesar de existir um novo papel da mulher na sociedade. Ainda é necessário expandir as políticas públicas de informação, bem como envolver os homens no debate e nas ações de gênero, a fim de trazer novos olhares para o problema e conscientizar a todos sobre o respeito à mulher e à sua autonomia de decisão, seja na liberdade de sua escolha profissional, na liberdade corporal e reprodutiva, bem como em suas ideias e posicionamento. E para isso contamos com a compreensão de nossos companheiros (homens), que serão, não antagonistas, mas atuarão ao nosso lado para busca de fins comuns.