30/06/2020 17h39 - Atualizado em 30/06/2020 17h42

Padre Lorenzo Longhi - 50 anos de Ordenação Sacerdotal

Antes de chegar ao Brasil, Caspóggio e Lanzada na Itália.

No último dia 28 o Pe. Lorenzo completou 50 anos de Ordenação Sacerdotal, e para comemorar, no sábado (27),  participou de uma missa em ao lado do Bispo da Diocese de Jales, Dom Reginaldo Andrieta e do Bispo Emérito Dom Demétrio Valentini que foi quem emitiu a Carta à Itália pedindo ao Pe. Lorenzo que retornasse ao Brasil. O Informamais continua contando a história do deste Jubileu de Ouro, e neste capítulo retornamos um pouco na trajetória. Destacaremos ainda ultimas atuações em terras italianas e então o dia em que ele inicia a sua história em terras brasileiras....

Esta é uma reprodução da narrativa do próprio Pe. Lorenzo reproduzida pelo site informamais.

CASPÓGGIO e LANZADA

Vou traduzir o que foi escrito num livro sobre a história da Paróquia de Caspóggio:

“Em 1976 chega a Caspóggio como cooperador Padre Lorenzo Longhi, que começou a trabalhar em favor dos jovens , na parte religiosa. Missa para as crianças e jovens.

Encontros específicos de formação, acampamentos de verão, e outras atividades propondo lazer, de verão e de inverno (muita neve), gincanas envolvendo a cidadezinha toda (até uma pequena olímpiada). Reformar as salas debaixo da praça da Igreja, cine fórum, pequeno conjunto musical, torneios esportivos, competições, representações teatrais, viagens, excursões, enfim muitas atividades esportivas, e criação de um boletim “Nós Caspóggio” fotocopiado na paróquia de Lanzada. Padre Lorenzo era cooperador paroquial também de Lanzada, além de Caspoggio.

Em 4 de Julho 1978, ao deixar as Paróquias rumo ao Brasil, o povo sentiu muito, nunca esqueceu até hoje o “terremoto pastoral” que ele fez em três anos!

Eu também senti muito ter deixado estas comunidades (povo bom, muito conservador e fechado como bom montanhês, que no início desconfiou do meu jeito de padre, mas depois deu apoio incondicional), mas o desejo era forte em mim, oferecer a minha vida longe da Itália, onde estivesse necessidade de padres jovens a serviço do Reino de Deus.

Eu decidi partir apesar da proibição do bispo (desobedeci) sai da Itália como turista ao encontro do desconhecido! Estava esquecendo que muitos, mas muitos mesmos, jovens me acompanharam no aeroporto, houve muito choro que até hoje não esqueci, e não olhei para trás quando entrei no embarque internacional.

Quando o avião se levantou senti um vazio e muita escuridão, na verdade é que não tinha tomado consciência do que estava fazendo, deixando para trás tudo!

Cheguei no Rio de Janeiro em 5 de julho, fui recepcionado no aeroporto por Padre Juliano que estava nos esperando (estávamos em 4).

Daí começou a minha “AVENTURA BRASILEIRA”.

 

TERRA BRASILEIRA

Com o fusca cor vinho, fomos até Petrópolis, e daí até Brasília, passeando, e da capital até Jales!!!

Apertados neste fusca conseguimos sobreviver e chegar na paróquia da Catedral, de Jales, onde padre Giuliano era vigário.

Eu não falava português, escutava e ficava em silêncio. O pessoal da paróquia vinha na casa paroquial, cumprimentando me e conhecer os turistas.                                                                    

Lembro-me muito bem que duas meninas gostavam de conversar comigo, ensinando o português do Brasil. Nestes dias fomos passear até Foz de Iguaçu, em Itaipu.

Quando fiquei em Jales, nos primeiros meses, assumi o papel de coringa, celebrando missas, casamentos em vários lugares, na roça e nas cidades.

Fui conhecendo neste período Santa Fé do Sul, celebrei a missa na matriz com o senhor Jose Herrera que fez a pregação (não lembro o que falou!!!). Celebrei também em Três Fronteiras com ele sendo o pregador.

Passei 3 dias com as turistas italianas na fazenda do doutor Rodolfo Abdo. Vale lembrar que eu era turista, sendo o presidente do Brasil o general Geisel, que não era favorável em acolher padres de fora, então, era necessário que eu encaminhasse os documentos para conseguir o visto permanente para poder ficar no Brasil, pois depois de 3 meses tinha q sair do País.

Tive que falar da minha situação com o núncio apostólico dom Carmine Rocco, que me acolheu e me apoiou incondicionalmente. Consegui a mala pena o documento da minha ordenação sacerdotal da Cúria de Como. Logo, começou então a minha peregrinação de Jales a São Paulo. Não lembro quantas vezes fui, sei que foram muitas; e quantos gastei, sei que sempre sozinho. Para piorar, o despachante escrevia tudo errado, na tentativa de aportuguesar meu nome e dos meus pais. Sem contar que tive que completar a papelada com o médico de Santos (este arrancou de mim muitos cruzeiros), com o laudo médico que declarava boa saúde.

Estava vencendo o prazo da minha estadia como turista, mas graças a Deus, próprio no último dia dei entrada da papelada, aí com o número do protocolo, podia ficar no Brasil. É bom que se saiba (descaso???) que fiquei dois anos com este protocolo.!!! Esperava, esperava, e nada, nada, nada!!! Graças a Deus, interveio o bispo Dom Luis Eugenio Perez que pediu ajuda à CNBB, precisamente a Dom Luciano Mendes, que foi averiguar na polícia federal, o que estava acontecendo, e para surpresa a minha papelada estava esquecida numa gaveta. Que descaso! Eu esquecido numa gaveta!

No prazo de 15 dias depois chegou o tão desejado documento com o visto permanente. Assim pude voltar na Itália para resolver os problemas que ficaram pendentes. Lá, fechamos o acordo com a diocese de Como, como padre da Fidei Donum, emprestado para a diocese de Jales, feito tudo isso, senti o coração em paz!

Em janeiro do 1979 Dom Luis me destinou como vigário de Indiaporã e Ouroeste, Guarani d´Oeste. Já conhecia estas comunidades, que tinha atendido desde a minha chegada no Brasil. Fiquei nestas paróquias até o janeiro do 1984. Comecei o meu trabalho pastoral, aprendendo a língua (conhecendo bem o latim foi fácil para mim). Assistia pica–pau amarelo de manhã e da tarde, lendo bastante os jornais e os livros fui caprichando o conhecimento da língua portuguesa com sotaque bem carregado.

Prioridades: formação de lideranças, de catequistas, conhecimento bíblico, encontros com famílias (Todo mês, num domingo passava a tarde), com os jovens (todo mês um encontrão), celebrações com as crianças e lazer, excursões e caminhadas etc.!!!

Dom Luís me pediu de atender também Mira Estrela...depois de um ano mais uma vez me pediu de atender Turmalina e Fatima Paulista.

Ele dizia que entregava serviço a quem não tinha tempo, porque achava o tempo! e eu fiquei nessa carregado de serviço

Bom lembrar que de terça à noite jogava no time de Indiaporã, de domingo as 16 horas no time de mira Estrela, no sábado quando não tinha casamento, as 16 horas com os boias frias no cascalho da periferia. Assumi a coordenação diocesana da Catequese. Participei dos encontros regionais do MST! (fiquei decepcionado, política suja atrás de tudo isso).

Adorei trabalhar nessas comunidades, viajava sempre com a minha mala bem arrumadinha, com o fusca bege. Olha ficava uma semana em Indiaporã e uma semana em Ouroeste (nunca um padre tinha morado em Ouroeste). A casa paróquia oficial ficava em Indiaporã, mas a comunidade de Ouroeste fez questão de alugar uma casa na avenida principal, com a intenção de construir uma perto da Igreja (onde fica até hoje, renovada e ampliada).

Na região tinham muitas comunidades rurais, era um trabalho cansativo, mas fazia tudo com muita generosidade e alegria. Sempre consegui atender a todos, evangelizando e transmitindo a alegria de viver com Cristo.