10/07/2020 17h38 - Atualizado em 10/07/2020 17h38

Pe. Lorezno "50 anos de Ordenação Sacerdotal" - Pereira Barreto e o "retorno" à Santa Fé do Sul.

O Informamais está reproduzindo a história narrada pelo Pe. Lorenzo que comemorou o "Jubileu de Ouro" no dia 28 de junho.

Pereira Barreto

Voltar ou ficar? Mais um dilema na cabeça!

A decisão foi difícil, sofrida, pois novamente deixaria estas comunidades que para mim tanto significou, eu diria um pequeno espelho das comunidades dos “atos dos Apóstolos”. Deixei tudo na casa paroquial. Bom lembrar que quando cheguei a casa estava vazia, e agora indo embora ficava bem mobiliada. Outra destinação estava me esperando, dessa vez: Pereira Barreto, para mim uma desconhecida!

Parti com a caminhonete bem carregada, trazendo apenas as minhas coisas pessoais, e mais uma vez enfrentei o caminho de volta para a diocese de Jales. Fui diretamente para Pereira Barreto, onde padre Valentim estava me esperando, antes dele mudar para a paróquia da Catedral em Jales.

Nos primeiros dias ele foi me apresentando às lideranças, primeiro contato com quem deveria trabalhar pastoralmente. Logo percebi uma certa desconfiança comigo. Reconheço que o povo estava triste pela saída do seu amado vigário padre Valentim. Também para eles eu era um missionário desconhecido que vinha de Palmas de Tocantins. Fiquei chateado, afinal este pessoal não tinha acompanhado o projeto missionário da diocese? Eu desconhecido? Desde o 1978 trabalhando a serviço desta Diocese?

Pois bem, não desanimei, comecei olhando ao meu redor para ver o que podia fazer, continuar o planejamento pastoral de padre Valentim e acrescentando certas atividades missionárias. De fato, arrumei certas capelas que estavam desativadas, para atender melhor o povo da roça. Uma capela na Bela Floresta, outra no km 11, outra no km 20. Duas pertenciam a diocese de Araçatuba, mesmo estando no município de Pereira Barreto (estavam além do Rio Tietê).

No município tinha muitos acampamentos (famílias acampadas na beira da estrada.  na espera de ganhar um pedaço de terra). Graças a Deus não houve nenhuma invasão, nem violência, nenhuma baderna, eram bem organizados, e aguardavam com paciência uma solução pacifica do poder público. Aos poucos todos conseguiram realizar este sonho, poder olhar para o futuro com muita serenidade, uma terra e uma casinha!

Eu celebrava todo mês a santa missa, e nos acampamentos, assentamentos, fui partilhando os sofrimentos, angústias e esperanças. Como sempre não concordava com quem estava atrás de tudo isso, porque via discriminação e politicagem! Além de Pereira atendia também Susanápolis, uma comunidade bem organizada, que amei dando atenção e favorecendo a presença dos leigos e leigas no pastoreio. A paróquia de Pereira Barreto tinha além da matriz, três capelas (comunidades): São Bom Jesus, Vila Nova, e Urubupungá. Durante a minha presença nasceu outra comunidade “Colina”, que conseguiu erguer a Igreja.

Também juntos com pessoal de boa vontade, montamos um projeto da reciclagem. Dessa forma fomos conscientizando o povo, começando das crianças e mesmo com poucos recursos fomos enfrentando este desafio e conseguindo ter bons resultados. O prefeito nos deu um barracão para guardar o material. Geralmente o pessoal que ia trabalhar neste projeto era gente desempregada, foi necessário organizarmos uma associação (lidar com pessoas é sempre um desafio). Apliquei muito dinheiro meu neste projeto, comprei uma prensa, outro material, ganhei do prefeito uma caminhonete F 1000 (alguém depois que eu sai de Pereira vendeu, grande injustiça, não pertencia a paróquia, mas ao projeto do lixo), mas paciência...

Pereira Barreto tem uma importante história, foi fundada pela colônia Japonesa, que sofreu durante a segunda guerra mundial (ainda hoje tem uma boa presença). Gostei do povo, e acredito ter deixado boas lembranças. E antes de sair de lá não só havia ativado como assumido a casa de recuperação (dependentes de droga e álcool), além de ter deixado uma oferta que veio da Itália (da minha diocese de COMO) para a construção do centro pastoral da comunidade de Urubupungá.

E mais uma vez outra surpresa estava me esperando.

Devo dizer que nestes anos tive que cuidar da minha saúde, com um tratamento meio bravo contra a hepatite C. Um dia dom Demétrio me visitando me fez uma proposta de mudança. Padre Max queria mudar de Santa Fé, e aí queria que trocasse com ele, voltaria em Santa Fé. Tratei de perguntei a dom Demétrio, espera aí o povo de Santa fé está de acordo, quer me receber de volta? Afinal, não queria dar um furo na água! Ele me confirmou vai receber de volta de braços abertos. Eu topei!!!!!!! Em janeiro de 2009 deixava Pereira Barreto e vinha novamente para Santa Fé do Sul.

Retorno a Santa Fé do Sul.

Antes de mudar para Santa Fé, sofri uma intervenção cirúrgica (foi tirada a vesícula). Foi na Portuguesa na terça e na quarta  fiquei de alta e a noite celebrava missa em Pereira Barreto, no dia seguinte fui levando a minha mudança sempre de caminhonete para Santa Fé do sul.

Voltei na mesma casa onde fiquei por 6 anos. Não mudou nada, fiquei no mesmo quarto onde nunca bate o sol. Aí poderia me perguntar: que impressão, que emoção, que sentimentos invadiram a minha alma, naquele momento que entrava na casa paroquial?  A volta do filho pródigo!

Quando sai daqui no 1995 deixei não um ADEUS, mas um ATÉ LOGO! Uma visão linda ver e encontrar quem batizei, quem casei, e segunda e a terceira geração, foi resgatar minha história. Estava em casa. Nenhuma dificuldade, para conhecer o pessoal, as lideranças, os ministros instituídos, gente nova, e o povoooo!

Olha era uma boa base para continuar o trabalho pastoral. Aqui na paróquia tinha como cooperadores padre Ilídio, recém ordenado e Márcio, que foi ordenado padre logo em seguida. Boa convivência, mesmo com ideias e personalidades diferentes. IIídio bem conservador, depois de dois anos de comunhão fraterna, escolheu uma diocese de Rio Grande do Sul onde se deu bem.

A cidade de Santa Fé estava crescendo e a população aumentando, com o rosto bem definido de cidade turística. Os desafios pastorais aumentavam cada dia. Posso dizer que a paróquia estava bem servida estrategicamente com várias capelas (bem animadas) nos bairros principais. As comunidades rurais infelizmente foram se esvaziando, e naturalmente fecharam suas atividades, justamente porque a maioria das pessoas se mudaram para a cidade.

Quando deixei Santa Fé em 1995 a casa da irmãs e o ambulatório estavam bem conservados, já que tinha prometido às irmãs que cuidaria com muito carinho, pois tudo aquilo simbolizava o trabalho pioneiro delas nesta região.

Pois é, infelizmente o que achei? O ambulatório uma desordem e caindo, (me desculpem) a casa reduzida em depósito. Um salão meio construído e abandonado. O que fazer?

Mãos na obra, vamos trabalhar e revitalizar este lugar tão especial!

O primeiro a ser reformado foi o Ambulatório, colocamos a livraria, a secretaria paroquial, e a pastoral da saúde, inauguramos no 17 de julho de 2009. Ambiente agradável e acolhedor. Em 2010 partimos para terminar o centro pastoral Nossa Senhora da Assunção, foi salva a capela com reforma, derrubamos a casa em péssimas condições, no lugar da casa um lindo jardim com cascata e fonte. Inauguramos tudo no dia são João Batista em 2010. Com a reforma do salão paroquial da rua 11, e mais o centro pastoral a paróquia estava bem servida (centro pastoral ficou à disposição para eventos).

Em 2011 passamos também a dar uma atenção maior a Igreja matriz. Telhado com problemas e forro caindo. Trocamos o telhado com telha “DÂNICA”, e o forro em pvc, tiramos tudo deixando aparecer a beleza do madeiramento (obra de arte do carpinteiro dos anos 1960). Demos um bom acabamento dentro da Igreja (rachaduras perigosas), e enfim uma obra grande: a recuperação dos vitrais. (obra de arte da família Conrado). Destacamos os vitrais com luzes, para que o povo admirasse a beleza deles.

O que posso dizer da comunidade? Foi consciente deste trabalho, solidária, deu o máximo que podia ajudando em ofertas, doações, uma corrida de generosidade. Povo muito generoso!

Enfim para dar um toque ainda mais especial, houve a doação de lustres que ajudaram a compor com beleza a iluminação da nossa casa de fé, a Igreja Matriz.