10/09/2019 06h43 - Atualizado em 10/09/2019 06h43

Polícia Federal faz novas buscas na Universidade Brasil em Fernandópolis

Matéria exibida pelo Fantástico da Rede Globo mostraram como eram as negociações das vagas em medicina e bolsas do Fies

Agentes da Polícia Federal de Jales, fizeram novas buscas e apreensão na sede da Universidade de medicina em Fernandópolis/SP na tarde desta segunda-feira (9).

Segundo a PF/Jales foram localizadas mais de 600 pastas contendo documentos relacionados às matrículas de alguns alunos que estavam em sala distinta das demais pastas. Elas estão sendo apreendidas para serem analisadas na sede da PF em Jales/SP.

Segundo as investigações, em matéria veiculada no site da Globo (G1), conversas telefônicas mostram como Universidade Brasil negociava vagas em medicina e bolsas do Fies.
Advogado de defesa da instituição nega a existência do esquema fraudulento.
Conversas telefônicas obtidas com exclusividade pelo Fantástico e exibidas em reportagem neste domingo (8) revelam como era o esquema fraudulento de venda de vagas em cursos de medicina e de bolsas do Fies na Universidade Brasil, no campus de Fernandópolis (SP), que foi alvo da operação da Polícia Federal, deflagrada na terça-feira (3).

Durante a operação intitulada como Vagatomia, vinte pessoas foram presas. No sábado (8), a Justiça Federal prorrogou por mais 5 dias a prisão de 11 suspeitos. Dois investigados com mandado de prisão expedido seguem foragidos.

Entre as pessoas presas estão o empresário e reitor da universidade, o engenheiro José Fernando Pinto Costa, de 63 anos, e o filho dele, Stefano Bruno.

Ambos são apontados pela polícia como chefes da organização. Segundo a PF, eles utilizavam o dinheiro obtido nas fraudes para comprar jatinhos, helicópteros e imóveis de luxo. O advogado de defesa da instituição nega a existência das fraudes.

O esquema fraudulento de venda de vagas já tinha sido alvo da operação Asclépio, da Polícia Civil de Assis (SP), em abril deste ano.

Em uma ligação é possível ver como era feita a negociação. Uma mulher pergunta se é garantido que ela consegue transferir a faculdade e um homem responde que trouxe quase 70 pessoas de Cochabamba. “Agora elas estão aqui”, diz o homem.

Em uma segunda escuta telefônica, um homem explica como funcionava o esquema. “Quem quer entrar em medicina e não consegue passar no vestibular o cara vende (..) e cobra R$ 150 mil, R$ 120 mil.”

Em outra conversa obtida pelo Fantástico, uma mulher deixa bem claro como era fácil participar do esquema. “A lista rodou inteira. Até cachorro entrou, ou seja, não precisaria ter comprado."

Desconfiança
Estudantes que entraram na faculdade após serem aprovados no vestibular começaram a desconfiar das fraudes por causa da quantidade excessiva de alunos que frequentavam a instituição de ensino superior.

“Inicialmente começou com dois, quatro, depois a gente começou a perceber que entravam 100, aí de repente 200 e 400. Nós temos discentes qualificados, único problema é que a quantidade de alunos afeta sim o ensino”, diz um universitário que preferiu não se identificar.

Em um dos casos comprovados que houve fraude, um aluno de medicina de Jales não conseguiu uma boa pontuação no vestibular. Na lista, o número dele era 618. A Universidade Brasil tinha somente 205 vagas, mas ele foi aprovado.

A equipe de Fantástico descobriu como o aluno conseguiu pular 400 pessoas que estavam na frente dele. No dia 11 de abril, dois homens que fazem parte da organização criminosa entraram em um consultório médico e saíram com dois cheques, sendo um de R$ 15 mil e outro de R$ 65 mil. Quem fez o pagamento foi o pai dele. O aluno conseguiu entrar na faculdade.

“Ficou bem claro, não só pela apreensão do cheque em si, no valor de R$ 80 mil, mas pelas tratativas prévias que foram feitas”, afirma Cristiano Pádua, delegado da Polícia Federal.

Por mensagem, o médico José Francisco Queda negou que tenha comprado a vaga para o filho dele, mas não explicou o motivo de dar dois cheques no valor de R$ 80 mil para integrantes da organização criminosa.

'Ajudinha' para estudantes estrangeiros
Além das fraudes nos programas do governo federal, a organização criminosa também realizava a transferências de estudantes que estudavam medicina em faculdades fora do Brasil.

Médicos formados no exterior que querem trabalhar no Brasil precisam passar pelo Revalida, um exame nacional que torna válido o diploma. Contudo, os estudantes vinham do exterior e entravam na Universidade Brasil por meio de um vestibular forjado.

“A partir do momento em que eles conseguiam ser transferidos para uma universidade aqui no Brasil, mediante pagamento, quando eles se formavam já não havia mais a necessidade de fazer o Revalida, de se submeter a esse exame”, diz delegado da PF Cristiano Pádua.

Segundo a Polícia Federal, as fraudes do Fies e na Universidade Brasil geraram um prejuízo de R$ 2 bilhões aos cofres públicos.

O que diz a Universidade Brasil
O advogado do reitor e da Universidade Brasil nega a existência do esquema fraudulento. “Até o momento, não há nenhum elemento para que o Fernando ou seu filho soubessem do que estava acontecendo. A universidade continua à disposição para identificar, colaborar, indicar os responsáveis e para sanar os problemas”, afirma Pierpaolo Cruz Bottini.

Em nota, o Ministério da Educação (MEC) disse apenas que instaurou processo administrativo para apurar o possível envolvimento de servidores nas fraudes da universidade e que a instituição foi suspensa cautelarmente para novos contratos do Fies.

Sobre o Revalida, o MEC defende que somente as instituições de ensino superior com nota máxima no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) possam revalidar diplomas.

Ao todo, 250 policiais federais foram às ruas para cumprir 77 mandados nas cidades de Fernandópolis, São Paulo, São José do Rio Preto (SP), Santos (SP), Presidente Prudente (SP), São Bernardo do Campo (SP), Porto Feliz (SP), Meridiano (SP), Murutinga do Sul (SP), São João das Duas Pontes (SP) e Água Boa (MT).
20 pessoas investigadas continuam presos e dois permanecem foragidos.