29/01/2019 19h32 - Atualizado em 29/01/2019 19h38

Voluntários da Missão Univida concluem atuação em aldeias indígenas no Amazonas

Padre Eduardo relata que os índios estão esquecidos, vivem na carência e a triste realidade do isolamento.

Durante dez dias, de 5 a 15 de janeiro, 36 voluntários da Missão UNIVIDA (Associação Humanitária Universitários em Defesa da Vida), vivenciaram momentos de Humanização e solidariedade aos povos indígenas e ribeirinhos da Amazônia. Povos que são esquecidos, que vivem afastados da cidade e sem condições dignas de se viver.

A Missão UNIVIDA é uma Ong da Pastoral Universitária da Diocese de Jales, na qual tem como Assessor Diocesano o Padre Eduardo Alves de Lima, Pároco da Paróquia São Benedito de Urânia – SP, que desde 2012 realiza missões em regiões carentes de recursos, em especial as aldeias indígenas de Dourados, que é considerada a maior tragédia indígena.

“Levar a UNIVIDA até a Amazônia sempre foi um anseio. Agora que concluímos a primeira atuação no Amazonas, me sinto realizado e agradecido a Deus pela oportunidade de conseguir levar adiante este ideal e pelo sucesso obtido. ”afirmou o padre.

Os Universitários e Profissionais que participaram da missão realizaram uma longa viagem até chegar as aldeias, foram aproximadamente 10h de voo até Manaus, depois mais 12h de Lancha a Jato até a cidade de Parintins e mais 8h de barco até as aldeias, onde realizaram os atendimentos.

Durante a viagem de Barco para a aldeia foi possível notar como o desmatamento vem avançando, principalmente para a criação de gado. Famílias que vivem as margens do rio montam suas casas e currais, desfigurando a paisagem da floresta fechada, e colocando em risco a própria vida e dos animais, em períodos de cheias do rio.

“Conseguimos atingir aldeias onde o português é falado de forma bastante deficiente, o que dificulta o atendimento e orientações à saúde. O isolamento dessas comunidades, especialmente no período da seca, impõe complicações a obtenção de alimentos e a fome torna-se realidade. ” Relatou o Pe. Eduardo.

Os Indígenas da etnia Sateré-Mawé vivem de forma precária, sem saneamento básico, onde realizam suas necessidades em fossas próximas as suas casas, em algumas aldeias como Umirituba a energia elétrica somente fica disponível das 19h às 22h, outras mais distantes muitas vezes nem possuem energia. O rio se torna essencial para este povo, onde nele se lava as roupas, se toma banho, se conecta a outras aldeias e a cidade, etc. Todos os voluntários vivenciaram o dia a dia com amor e gratidão em poder levar um pouco de esperança, e sentir na pele como é se viver na Amazônia.

“Estar lá e vivenciar o dia a dia do povo Sateré, suas tradições, as manifestações religiosas, inclusive a participação na Santa Missa, me confirmou a necessidade de nossa presença também neste lugar, onde tantos são esquecidos e tão carentes de tudo, inclusive de fraternidade e compreensão para a realidade de suas existências ”, ressaltou o sacerdote.

Para o Estudante de Engenharia Civil da Universidade Brasil, Alexandre de Souza Buosi, “Participar dessa primeira missão na Amazônia, realmente foi incrível, difícil descrever em apenas uma palavra devido a grandiosidade que tem essa interação entre culturas diferentes e principalmente pela forma como fomos acolhidos, é um amor incondicional, e o mais bonito é que esse amor é gratuito; agradeço todos os dias por ter tido a chance de fazer parte desse projeto maravilhoso. ” Disse.

“Participar da Missão UNIVIDA Amazônia representou um mergulho no desconhecido. Este ato me possibilitou descobrir fragilidades e potencialidades que antes não tinha consciência. Permitiu exercitar e aprender a conviver com a diversidade humana. E principalmente renovou a minha fé no ser humano” acrescentou a Psicóloga, coordenadora dos Cursos de Psicologia e Serviço Social da Fundação Educacional de Fernandópolis, Radila Fabricia Salles.

Muitas foram as dificuldades durante os dias de missão, mas essas dificuldades não desanimaram, muito menos atrapalharam a alegria e o entusiasmo em levar um pouco de amor para aqueles que precisam.

“O comodismo de uma cama aconchegante e todos as mordomias que estamos acostumados, foram substituídos durante estes dias por abraços logo ao nascer do sol, e sorrisos que nos estimularam a chegar até o final com a certeza de que amar é um ato de coragem. Sobre os simples gestos de gratidão de cada indígena ao receber um atendimento pelos voluntários, tornando aqueles dias os mais intensos em receber conforto em afeto para nós. ” Afirmou a jovem recém-formada em Psicologia pela Unifae, Poliana Martin.

Este povo luta muitas vezes para manter viva suas tradições, sua crença, seus sonhos, porém muitas vezes são destruídos por aproveitadores que modificam o jeito de se viver, tiram o direito da vida, desrespeita sua cultura. O capitalismo corrompe o modo de ser indígena, o dinheiro divide e destrói a união e a partilha, estrangeiros e aproveitadores que por ali passam oferecem dinheiro em troca de rituais, produtos, etc. Ocasionando divisões e disputas, o natural, espontâneo e o partilhar está modificado. Tudo é realizado em troca do dinheiro até mesmo um simples ritual entre eles.

A UNIVIDA é uma voz que grita em auxilio destes povos, mostra o valor e valoriza cada um com o seu jeito de ser, desperta o ser humano em cada universitário e profissional que doa sua vida para fazer o bem.

Duas Universitárias Indígenas de Manaus acompanharam a Missão, partilhando suas experiências. “Quando fui convidada a ser uma das estudantes indígenas a se juntar ao um grupo de pessoas vindo do estado de São Paulo vi ali a oportunidade de viver uma experiência sem igual e também da importância do grupo se ter alunos indígenas para somar os conhecimentos e a vivencia. ” Relatou a Estudante de Biologia da Universidade do Estado do Amazonas, Mayara Pereira Batista. “A 1° missão UNIVIDA Amazônia foi um choque de realidade não só para mim mais para todos que tiveram o prazer de passar esses dez dias na Amazônia, foram muito os aprendizados e saímos com a certeza que a missão não está apenas atrelada a levar atendimento as comunidades, mas também a mostrar a esses estudantes a forma de vida das comunidades, suas dificuldades e como isso é encarado dia a dia, eu tenho certeza que todos saíram dessa missão um pouco mais humanos. ” Frisou a jovem.

A Missão UNIVIDA tem sua continuidade ainda neste ano com a próxima Missão em Dourados, será a 9ª edição, e terá edital publicado no dia primeiro de fevereiro, contendo todas as orientações necessárias sobre os períodos de inscrições, as vagas para as Instituições de Ensino Superior parceiras, as inscrições avulsas, bem como a data de divulgação dos selecionados.

“Brevemente irei a Dourados para reunião com a liderança indígena, prefeitura, FUNAI e o diretor da escola para definição de locais de atendimento, estabelecer cronogramas e agilizar questões práticas. É só aguardarem o edital! ” Concluiu Padre Eduardo.