14/07/2020 15h47 - Atualizado em 14/07/2020 15h47

"50 anos de Ordenação do Padre Lorenzo" - o nascimento da cidade de Palmas e a presença da igreja

Texto e narrativa do Pe. Lorenzo que completou 50 anos de Ordenação no dia 28 de junho.

Padre Lorenzo Longhi detalha neste capítulo, sua presença (igreja católica) no nascimento da cidade de Palmas, a organização das paroquias católicas e historia vividas durante sua permanência naquela rincão brasileiro.

Período em  Palmas –  (TO)

Aos poucos a situação sócio-económica de Palmas e da região foi melhorando, com estruturas razoáveis para atender as necessidade da populção, na organização política , com um visual de cidade moderna .

A população foi aumentando consideravelmente, e os evangelicos que queriam fazer de Palmas a maior cidade evangélica da Ámerica Latina, tiveram que abaixar suas “asas”, porque os católicos não estavam mortos , aliás começaram a se organizar em muitas comunidades, e de conseguência  surgiram inúmeras paróquias com todas as estruturas pastorais.

Muitas congregações religiosas marcaram presença na região. Muitos padres vieram trazidos pelo arcebispo Dom Alberto, desta forma as necessidades pastorais estavam bem atendidas. Sendo assim, eu continuava o meu trabalho apostólico,  entregando várias paróquias, mas tomando conta sempre do meu amado sertão.

Quem ajudou a dar um rosto à paróquia de Taquaralto,  foi este grupo, onde é impossível não lembrar porque partindo do nada, realizamos uma boa família paroquial, pessoas como dona Valda, dona Lourdes, a minha secretária Hilária e família, dona Urbana, dona Custódio, dona Sueli, Leila, Leninha, José da farmácia, Senhor Rezende, Senhor Walter Borges, Jacinta, Maria Alice, Pastora, Marta Francisco, Santos, Aylton, Maria de Jesus, Lindalva , Michelle, e sobretudo Toinzinho e família. Com certeza devo ter esquecido outras pessoas, mas os que lembrei,  foram  missionários  que fortaleceram  a presença da Igreja nesta minha especial missão.

Ao longo destes anos, sempre veio uma turma de Jales pra organizar na minha paróquia semanas catequeticas, um ajuda que fortaleceu nossos laços com a diocese de Jales. Em 1998 veio em Taquaralto, enviado por Dom Demétrio, Deoclides, para fazer comigo uma experiência missionária, e para apurar a sua vocação. A presença dele foi valiosa , assumindo um trabalho árduo e difícil nas escolas,  e me acompanhando nas viagens apostólicas, marcando presença nos bairros. Foi uma boa convivência que o ajudou para ser acolhido de volta na diosese de Jales e ser ordenado padre no dia 14 de fevereiro de 1999.

Dom Demetrio marcou sua presença no ano 2000, precisamente no dia de nossa senhora Aparecida, padroeira da paróquia de Taquaralto. Na missa lembro que falou da minha volta patra a diocese de Jales a partir do início de 2003. Podem imaginar a reação do povo, não queria ouvir falar dessa decisão, momento sofrido, outra encruzilhada: voltar ou ficar, eis ai o dilema!

A verdade é que eu pessoalmente não desejava largar esta vida de missionário, este povo que desde o início aprendi a amar e a dar o melhor. Mais um pedaço do meu coração iria ficar por aí. O pessoal do sertão iria sentir a minha falta, Dona Branca, Senhor Benjamim (este homem, boa liderança poderia ser ordenado padre, mesmo casado).

Quantas recordações, quantas aventuras de dia e de noite neste deserto do Jalapão. Dificultades sim, mas encaradas com alegria, de coração aberto. Dom demetrio queria que voltasse para relatar minha experiência aos padres da diocese  nas paróquias. O bispo me propôs duas paróquias Palmeira d’oeste, ou Pereira Barreto. Por atender o desejo de Padre Valentim, aceitei Pereira Barreto, e assim, foi com profunda dor no coração que deixava Palmas no início mesmo de Janeiro de 2003.

Palmas – o início da constgrução de uma nova cidade

Ao nascer a nova cidade de Palmas, houve muita correria e confusão para tomar posse de lotes e áreas institucionais. Repito uma confusão! Uma boa parte de pessoas se apoderou disso! Os crentes aproveitaram, tomando e invadindo muitas áreas, para construir a própria “Igreja Salão”! Outras áreas eles venderam!

A Igreja católica foi respeitando, não invadindo, e sim legalizando; fosse a compra ou a doação de terrenos. Eu respeitei! Esperei! Obedeci às orientações do poder público, mas.... nada consegui, aí fiquei “chupando o dedo”. Lamentei, chamei a atenção e ainda fui chamado de encrenqueiro! Tive que comprar lotes, áreas para as futuras instalações de nossas Igrejas (alguns terrenos ganhamos de particulares). O pessoal que invadiu nunca foi intimado a devolver. Triste realidade (bobo, tinha que ter feito o mesmo).

Durante estes anos aconteceram dois fatos que ficaram bem na minha memória e na minha alma.

Primeiro fato.

Na noite de Domingo de Ramos, chegando na casa paroquial fui assaltado por três marginais! Que com certeza já estavam escondidos no quintal. Estava eu na cozinha preparando uma comidinha para os gatos, (que chegavam só para comer), quando de repente apareceu um cara na minha frente com pistola apontada em mim! A vontade era de dar uma panelada nele (de fato estava com panela na mão). Para piorar apareceram mais outros dois, que me jogaram no chão e me amarraram, pedindo com insistência o dinheiro (havia tido coleta da CF) mas ele não estava comigo, pois normalmente nunca trazia dinheiro para casa. Me arrastaram na sala dando golpes na minha cabeça, abriram uma maleta onde tinha duzentos reais. Esvaziaram a casa, levando tv, vídeo, fax, rádio, roupas, tudo o que conseguiam pegar (um dos caras teve a ousadia de pedir se podia levar a Bíblia!). Foi daí que fiquei sabendo que também ladrão reza para que tudo corra bem no assalto!

Batendo em mim pediam mais dinheiro! Insistiam no tempo, ficaram aproximadamente das 21hs até às 02hs da madrugada, até constatarem que de fato nada mais conseguiriam. Antes de ir embora me levaram no quarto e me deitaram na cama (bondade deles de ligarem até o ventilador) deixando um recado de não me mexer, senão poderiam voltar e atirar em mim.

A essa altura não ouvindo mais nada, dei um pontapé no ventilador para fazer barulho e ver se de fato tinham mesmo ido embora. Tentei me levantar da cama, amarrado tudo era difícil, caí no chão e a duras penas consegui levantar, indo até a cozinha e arrastando com dificuldades encostei a geladeira na porta, corri também para trancar a porta da sala pegando com os dentes uma  estaca que geralmente usava para travar a porta como medida de segurança. Feito isso, e já bem trancado em casa, fui no quarto para tentar chamar alguém pelo telefone (os ladrões pensavam de ter desligado o fone pegando o fax).

Como fazer? Deus me deu um nariz romano, aí consegui digitar uns números (neste momento dá um branco na memória). Aí lembrei de uma pessoa dona Valda, não atendeu! Que sufoco! Tentei me lembrar do fone dos padres irlandeses, várias tentativas, aí graças a Deus atenderam (bom lembrar que eram 3hs da madrugada). Achavam que fosse um trote, aí fui logo gritando, pois tinha que ser convincente! Vieram com a polícia. Me desamarram e me levaram na delegacia para fazer o B.O e também o exame de corpo delito (estava bem machucado nos pulsos e no pescoço e roxo nas costas).

Experiência negativa que nunca esqueci, até lembro os detalhes daquela noite, momentos de pânico, só entregava tudo nas mãos de Deus, estava sob poder de marginais, não sabia como teria sido o desfecho daquele assalto!

No dia seguinte vieram testemunhar solidariedade e apoio a mim muita gente: o Bispo, o pessoal da comunidade, autoridades militares, políticos, e representantes do Governo, já o pessoal dos direitos humanos nunca mostraram a cara (talvez porque a eles não interessa a vítima), por isso que estou de bronca com este bando de inúteis !

Segundo fato

Outra vez no ônibus indo para Goiânia mais um assalto!

Desviaram o ônibus (era 03hs da madrugada) para um matagal, uma estrada rural, e aí bem tranquilos entraram no ônibus, depois ter dado uma surra no motorista, ameaçaram a todos nós passageiros com as armas na mão. Pediram o dinheiro! Apontaram o revólver na cabeça da criança, intimando a todos a ficarem quietos e a dar o dinheiro.

Mais uma vez diante de marginais tirando injustamente o que é nosso! E mais uma vez aquela sensação de impotência diante desses marginais, que sem escrúpulo levaram dinheiro, relógio, gargantilha, aliança do meu pai, celular, etc. Mandaram ficar os homens de cueca em cima do banco. Constrangimento total diante das mulheres assustadas.

Saímos desta situação com a chegada da polícia, já que alguém tinha escondido o celular dos ladrões, conseguiu-se alertar a polícia.

Fizemos o B.O. na cidade de Rialma e a notícia que se teve era que a quadrilha havia sido presa, comprovando assim que o chefe era um delegado da polícia civil  (que beleza !!!).